Na aula anterior, você conheceu a imagem de Hekate retratada por Shakespeare. Nesta aula, vamos explorar alguns outros textos que tiveram grande influência nessa imagem da deusa hoje.
Algo que fica bem claro na imagem de Hekate que vimos antes de Shakespeare é que Hekate é representada como uma donzela ou uma figura de idade indefinida, mas nunca como anciã. Essa imagem de anciã deve-se especialmente a uma passagem de Aleister Crowley (1875 – 1947), famoso ocultista inglês em Moonchild (1929) em tradução livre por mim:
“(…) ela é Hekate, uma coisa completamente do inferno, árida, hedionda e maliciosa, a rainha da morte e da bruxaria do mal… Hekate é a anciã, a mulher que superou todas as esperanças da maternidade, sua alma negra de inveja e ódio pelos mortais mais felizes… Outros podem de fato ser castos com Ártemis, sacerdotisas de um rito santo e inefável; mas com essa exceção, o fracasso em atingir a meta designada os leva ao lado escuro da lua, a casa fria e árida de Hekate, a amaldiçoada.”
Já em 1948, Robert Graves (1895 – 1985), um poeta inglês, foi o responsável por popularizar o conceito da deusa tríplice como Donzela-Mãe-Anciã em seu livro “A Deusa Branca”. No mesmo livro, o autor constantemente refere-se à Hekate como uma deusa da morte, tríplice, deusa das bruxas, ligada com plantas venenosas e que aparece em Macbeth.
Hekate aparece sim com três corpos na Antiguidade, mas três corpos iguais, ou seja, não são três mulheres diferentes ou com idades diferentes. Essa retratação provavelmente surgiu por Hekate guardar as encruzilhadas triplas, ou seja, cada face olhando para um dos lados.
O conceito de Donzela-Mãe-Anciã, como podemos ver, é bastante recente e não tinha a ver com Hekate, sendo algo bastante contemporâneo por influência dos autores citados acima.
A estátua de Hekate por Alkamenes, provavelmente o primeiro escultor a retratar Hekate com três corpos por volta de 430 aEC (já que antes disso, Hekate era retratada com apenas um corpo), se perdeu, mas ainda temos algumas cópias de como essa estátua aparentava. Uma dessas cópias está atualmente no Museu de Antiguidades em Leiden, na Holanda, com Hekate segurando uma romã:
Hekate é a Anciã? Profanação de Hekate?
Segundo o dicionario.priberam.org:
Profanação:
- Ato ou efeito de profanar; sacrilégio.
- Mau uso que se faz de coisas dignas de apreço.
Profanar:
- Tratar com desprezo as coisas sagradas ou fazer delas uso profano.
- Fazer mau uso do que é preciso.
- Injuriar, ofender, macular.
Profano:
- Oposto ao respeito devido ao que é sagrado.
- Que não tem conhecimentos relativos a determinado assunto.
Atividade 9.1:
Acompanhe no áudio abaixo a leitura e comentários que faço do texto da Sorita d'Este questionando e argumentando sobre a visão de Hekate como anciã:
Imagens das Graças, Moiras e Horas:
Atividade 9.2:
Responda as seguintes perguntas no seu grimório:
- Você sabia quais eram as origens de Hekate ser descrita como a Donzela-Mãe-Anciã (e mais frequentemente apenas com a face Anciã da Deusa Tríplice), e também sabia que isso é algo contemporâneo? O que você pensa sobre isso e como isso afeta a sua visão pessoal de Hekate?
- Você vê ou já viu Hekate como anciã? E o que isso te remete?
- Você acredita que “todas as deusas são uma deusa” e “todos os deuses são um deus”? Sim ou não, e por quê?
- Por que você acha que Aleister Crowley descreveu Hekate dessa forma? Considerando as definições de “profanação/profanar/profano” acima, você considera que a forma que Crowley descreve Hekate é uma profanação da deusa?
- Como você acha que essa visão pode influenciar a imagem que as pessoas têm de Hekate nos dias de hoje? Você acha que é importante resgatar a história e mitologia de Hekate como ela era vista pelos nossos antepassados? Sim ou não, e por quê?
Lembrando que essas são questões polêmicas e bastante pessoais, por isso é importante ter respeito com a visão de todos nas discussões. ;)
